1/20/2010

Ontem e Hoje


Com o devido respeito e vénia,

"Ontem chamei-te incompetente. Ontem minei-te o poder dentro do nosso Partido. Ontem mandei-te tirar a minha foto do cartaz. Ontem quebrei o teu valor facial, tornando-te má moeda.

Hoje fiz-te grã-cruz. Para que te cales e não me estragues o projecto."

Publicada por Nuno Castelo-Branco em Quarta-feira, Janeiro 20, 2010

10/18/2009

Monarquia vs República

A propósito do tema supracitado no excelente Blasfémias, e apenas como pequena amostra do que será o seu desenvolvimento neste blogue, transcreve-se o meu comentário:

Numa Monarquia o Rei é escolhido por vários órgãos consultivos, e obrigatoriamente aprovado no Parlamento (no caso português esta seria a única desgraça, atendendo à qualidade do dito…).
Límpido.
Na República Portuguesa, o Presidente é escolhido nuns jantares no Hotel Altis e outros, secretamente, por diversos acordos de interesses de grupos semi-mafiosos. O resto é feito pelas empresas encarregues de tal: o tratamento da imagem, das palavras que deve dizer, no martelar insinuoso das 8horas da noite, nos debates com os especialistas do costume, e no dia do voto tudo estará seguro: o “candidato” é eleito, desfeita que está toda e qualquer resistência moral e mental que os eleitores sejam (ainda) capazes de apresentar.

Claro que, na impossível hipótese de haver um referendo ao Regime, tudo isto funcionará (como aconteceu no Brasil) para que a República continue de vento em popa.
E nesse aspecto, Dom Duarte bem tem ajudado: rodeado pela tralha humana e social que o acompanha, a República nem precisará de fazer campanha.

6/01/2009

AS VAGAS LOUCAS

Como andam a brincar connosco, dancemos a música fúnebre tocada por uma qualquer banda barulhenta que acompanha os nossos "clowns".
Voltaram a brincar com a fixação de médicos no interior, em português esperem aí e vão-se lixando.
A fórmula é também a mesma: bolsas, leia-se dinheiro ilegal, para fixar jovens médicos nas populações do interior.
Feliz deve estar Madrid, uma terriola bem do interior da Espanha fundada a partir do cruzamento de caminhos de cabras...
Não. Aqui as cabras são as nossas. E o esquema é muito simples: como os médicos não estão obrigados a cumprir a Lei dos concursos, é preciso suborná-los para ficarem fora do Porto, Coimbra e Lisboa. Apenas isso. O que significa que para um prostituído jovem dessa classe, no início da vida que tanto custa a ganhar, em vez de 800 € (início de carreira para qualquer Técnico Superior) dão-se-lhe por exemplo 1500, limpos,mais subsídio de interioridade e de habitação. E se for ficando, como médico de família, basta invocar a exclusividade para ir duplicando o seu salário.
Medidas do Sr. Silva, quando era primeiro-ministro: os médicos de família, PARA NÃO FAZEREM PRIVADA, recebem desde essa altura o seu salário a dobrar- gerando fenómenos de novo-riquismo de que os episódios recentes de "pirataria" são uma minúscula amostra.
Mas dir-me hão: não seria nais honesto fazê-los cumprir a Lei, como por exemplo os Professores, que têm de concorrer e aceitar as vagas que lhes surgem?
Não, responde o ex-ministro Arlindo de Carvalho: "eu quiz fazer isso e o senhor silva despediu-me pelo telefone".
O que foi bem feito: Arlindo de Carvalho destruiu- decorrem agora as implosões finais- os Cuidados de Saúde Primários.
Mas isso é outra conversa para uma outra noite com Sherezade.

Post scriptum- Estamos na altura, a última oportunidade pacífica, de legislar no sentido de ser permitida, apenas e só, a prescrição por princípio activo.
Depois não se queixem.

3/17/2009

CRIME E CASTIGO

É a primeira vez que o fazemos, e honrados nos sentimos por haver em Portugal, ainda, quem pense e escreva:


"Um pai que provoca a morte do filho por dele se ter esquecido no carro comete um crime horrendo mas não é um verdadeiro criminoso. Tudo dentro de si se revolta contra uma morte assim. Qualquer pai, estou certo, trocaria a sua própria vida pela do bebé que desamparou. Hoje, o dilema maior é que os nossos filhos precisam que lhes dediquemos tempo que tenha tempo – justamente aquilo que o incessante redemoinho em que vivemos não consente. Chico Buarque, no ‘Pedaço de mim’, cantou que “a saudade é o pior tormento, é pior do que o esquecimento (…) a saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu“. Aquele pai de Aveiro vai sofrer o castigo mais penoso que existe. Espero que a Justiça não tente agravar-lhe o suplício - porque seria inútil e apenas cruel." De CAA, in Blasfémias.

1/26/2009

20ª SESSÃO - DE TITANIC, A ENTRE-OS-RIOS

O PRINCÍPIO DO FIM (DO QUE JÁ NÃO EXISTIA)

1.- Preparar a partida

Figueira da Foz, algures por 1985 – 1986. Um homem rude, boçal e tosco, embandeirado apenas por um doutoramento (verdadeiro, diga-se) em York e com McGiver na cabeça, tendo comprado de fresco um Citroen BX numa época em que era recomendado fazer uma rodagem – agora os carros vêm com a rodagem feita na hora – decide fazer a dita naquela terra.

E por acaso, que só por acaso estas coisas acontecem, havia nesse fim de semana nessa mesma terra um congresso do partido a que pertencia (hoje não pertence, embora se divirta a jogar peças às cegas lá para dentro, derrubando quando lhe apetece dirigentes sejam eles primeiro-ministro ou não. Há gostos que não são passíveis de discussão.).

Apesar de tudo o que sucedeu e sucede em Portugal, estava-se na num dos períodos mais tristes de todos estes trinta e tal enganos sucessivos, governados pela pior escória que Abril alimentou (o Bloco Central). Com a PIDE reciclada e reutilizada no SIS / SIR e aparelhos desses partidos, juntando aos ficheiros da dita os updates decorrentes dos dez anos já passados; com o nome, que basta o nome, do então primeiro ministro; com o que se negociava em Bruxelas para vender o que nos restava da Alma; o tráfico de armas feito a partir dos protagonistas nacionais; o dinheiro e a fruta de Macau a insinuar-se nas altas esperas, dominando-as, – este foi um período, e já mencionado neste blog, do terror mais subtil que nem Salazar ousou empreender. Só no reino da pura mafia (António Guterres e Jorge Sampaio) se igualou e pontualmente ultrapassou a maldade publicamente exercida sobre a população. Já lá vamos.

O mais curioso, e que comprova que pelo menos em Portugal o centro é ocupado por hordas de medíocres, imbecis e analfabetos funcionais, o mais curioso é que com tanto dinheiro à disposição (que lhes importava a origem?) ; com tanto poder nas mãos; com o nosso destino traçado e vendido (é esse o termo!) para os próximos cem a duzentos anos, os palermas andavam às turras, a propósito d'isto é meu, e os membros do governo vinham à televisão maldizer-se mutuamente...

“As sociedades, quando não têm objectivos, votam ao Centro”, dizia um dirigente da Juventude Socialista.
“Somos pagos para não trabalhar”, disse anos mais tarde quem tratou desse mesmo pagamento.
Os dois, curiosamente, afirmaram-no com a niilista impressão de proferirem frases originais, históricas, sem saber que falavam de si próprios...

Mais palermas, só os chapéus.

E esse homem entrou no Congresso, e ganhou o lugar de Presidente do dito partido. Por inerência, deveria passar a ser vice primeiro-ministro.

Mas não foi; o primeiro chamou-o, e chamou-lhe parolo rude e tosco, e que nunca iria a lado nenhum com tanta parolice.

Magoado, tanta ingratidão por tantos trabalhos em conjunto e tantas conspirações em segredo, rompeu a ligação e levou o país a votos. A mafia negra já tinha formado o PRD e o homem rude e tosco subiu a primeiro-ministro, sem maioria.

Depois foi só trabalhar um pouco a imagem e a voz – tarefa árdua – e gerir os milhões de contos que começavam a emigrar da Europa Central para as nossas Camorras .

Uma parte voltou à origem sem ninguém se aperceber; outra serviu para comprar casas de praia, carros e outros pequenos confortos; outra era distribuída às massas populares quando algum membro do Governo as visitava.

Com tanta alegria a recebê-lo, o nosso McGiver convenceu-se que era adorado e desejado.

A Mafia fez-lhe a vontade: o tenebroso PRD provocou a queda do Governo; novas eleições e pela primeira vez nesta República um partido tem maioria absoluta.

1/25/2009

As Vagas, sem Ordem

De peito ufano e velas desfraldadas, (ou rotas?) o inominável foi, qual bandarilheiro frente a um touro moribundo, anunciar enormes melhorias na Saúde.
Quais? Mais umas centenas de vagas de especialidade para médicos, colmatando assim lacunas na nossa saúde.

Ora bem, ele não sabe (nem aparenta vontade de saber) o seguinte:
1. Não há médicos, muito menos para se candidatarem a vagas de especialidade;
2. Mesmo que os houvesse, a Secreta Ordem - dos ditos- não autorizaria a respectiva abertura, como é habitual;
3. Mesmo que os dois pressupostos anteriores se cumprissem, os novos especialistas continuariam a não cumprir a Lei Básica sobre concursos na Função Pública: 90% ficariam, depois de ocupar e bloquear à posteriori lugares pelo país adentro, acantonados nos corredores dos três grandes Hospitais (Porto e Lisboa) a mendigar um doente para poderem fazer currículo e agradar aos abutres que lá mandam (a bem da Ordem, claro).

O resto do país fica a mendigar uns espanhóis, venezuelanos, ucranianos, enfim alguém que vá rascunhando um português um pouco melhor que o dos nossos alunos que vão completando o 12º ano...

1/20/2009

Obama Bin-Laden

Tomou hoje posse, Obama Bin-Laden.
Que declarou o outro - Ossama - como inimigo número um da América. O outro, recorde-se, nasceu a 11 de Setembro de 2001, e foi nessa noite declarado culpado por um fenómeno de cariz fatimida ocorrido nessa manhã. Sem julgamento nem direito a defesa.
Podem estar descansados os criminosos de todo o Mundo: enquanto houver países a destruir, a "procura" do outro Bin-Laden ocupará todos os recursos militares dos Estados Unidos da América. Que é como quem diz, 80 % do Mundo Inteiro.

As ilusões pagam-se caro. E esta bem mais caro que se colocassem, os americanos, uma qualquer retazana no poder.
Como nós.

11/11/2008

Quatro Biliões de Contos de Guei, Baby

... Afinal havia dinheiro.
(O texto segue, quando calhar).

McSatan na Praia da Luz

Uma igreja hermafrodita - anglicana às segundas quartas e sextas, romana às terças, quintas e sábados -, um padre misto, uma Bíblia invertida, dois Chefes de Governo e de Estado, um imberbe bastonário que sabe de tudo, mesmo da bola, mas nada sabe da vida;

Duas autoridades supremas da justiça: que mais desejaria Satan?

4/11/2007

A RATAZANA

... E esperei, pacientemente, por este dia. Em que Portugal se afundaria OFICIALMENTE, por uma de duas vias: ou o inominável se demitia pesarosamente perante o País (a Nação já não existe) ou fazia o que fez perante dois incapazes e continuava a obra da qual não tem consciência e prolongava (adiava) o desfecho final para mais tarde.

Num caso ou noutro, espera-o um alto comissariado para os inimputáveis - abissus abissum invocat - e a nós um despertar amargo de ressacas.

O ser que nunca trabalhou nem pensou é uma perfeita ratazana, talvez mais repelente, e com outras vive e convive.

A sua sede é ali ao Rato, onde a Opus Gay se liga ao Grande Acidente Lusitano.
A nossa, o divã da psiquiatria onde desfilamos stresses pós-traumáticos em série.
O Homem, nunca existiu; o rato começa a fuga.
E eu respiro e volto a escrever.

5/04/2006

20ª SESSÃO - OS ZOMBIES

Todas as sociedades têm, e necessitam de, os seus mortos-vivos. Talvez mais cruelmente que no Haiti ou noutras sociedades primitivas e atrasadas, aqui os zombies constituem a esmagadora maioria da população. Não é possível quantificar, é certo, mas são uma maioria esmagadora.
A sua tipologia, bem como os métodos e materiais utilizados para produzi-los, são diferentes. E se no Haiti se pode tipificar a produção de mortos-vivos, com evidências penais bem carregadas, aqui não.
Aqui quem produz os mortos-vivos é quem faz as leis, as manda executar, divulgar: é o poder, por sua vez rodeado de zombies intermédios. É quem no fundo tem o poder de fabricar e mandar fabricá-los, ordená-los por secções, catalogá-los.
Os nossos zombies têm uma hierarquia própria: os que melhor se movimentam entre duas hibernações, tendo inclusive o poder de fabricar outros – embora lentamente – e os inertes – a esmagadora maioria da população. Os primeiros fizeram, planearam e geriram Portugal desde Abril de 1974; os segundos aplaudem, votam, participam onde e quando são levados a isso, dizem que sim ou que não, e para já parecem felizes assim.
São mais ou menos fáceis de manter: o primeiro passo foi simples – libertá-los da escravidão de um regime opressor e do ambiente fétido das Igrejas, pondo-os a pensar por si através de outros; o segundo, levando-os suavemente, sem sombra de violência, a comícios políticos, manifestações organizadas de rua (não, procissões não!) televisão, e quando esta não era suficiente multiplicaram-se os canais à disposição, mais televisão, e mais canais.
Concursos e gaiteiras de corpo esganado, fóruns com medíocres estrategicamente colocados e a fingir que estão em desacordo, novelas com textos tão miseráveis que qualquer secretário de estado poderia subscrever , mais concursos de figurino importado das orgias de Roma e Pompeia (antes da erupção, claro) – numa missa política de 4 em 4 (conforme) anos onde os zombies dizem amém nos altares que lhes pões à disposição.

2/24/2006

19ªSESSÃO- O ESTADO BOBO

De tudo se fez, e nada vimos. Sobretudo para colocar à vista a ponta do iceberg - Mário Soares a Presidente - esmagando e escondendo o resto do dito, mistura amalgamada de lixo social, escória sub-urbana de elite (uma espécie de lumpem-proletariado adaptado) onde pontificava a Classe do regime: foragidos sem lei da ruralidade, reciclados e treinados em meia dízia de restaurantes, bares e discotecas quando não de prostíbulos até estarem prontos a vomitar a sua ignorância absurda sob a forma de declarações políticas e projectos de Lei.
Comprou-se e vendeu-se, pintassilgos e zenhas, partiu-se e baralhou-se, inventou-se o PRD - tudo bem regado com champanhe e fruta de Macau- usou-se o Index. O PCP fez o trabalho preparatório- a necessidade de criar um partido. Seria o PRD, com quem fez um dos mais vergonhosos acordos deste regime.
O Index? Disse o Index? Sim senhor, e disse muito bem: a pide do regime não perdeu tempo. Mudou de fisionomia, a tipologia de muitos agentes- que passaram a ser o contínuo em contrato, o aspirante a um lugar, o servente de café, o telefonista também em regime de contrato etc,. mas os métodos, em si, só mudaram pela ausência de recurso à prisão. Não era necessário.
E quem não tivesse folha limpa segundo os parâmetros do Bloco Central era afastado de trabalhos, de funções (ou das duas coisas).
Quem tivesse sido militante ou simpatizante de esquerda, e não branqueasse essa nódoa com uma militância no PSD ou no PS perdeu a partir daí hipóteses a que por lei teria direito. Ficaram de pé (mais uma ponta de iceberg) algumas excepções, pela simples razão de estarem bem catalogadas, normalmente militantes do PCP.
Uns calaram-se, outros não e já não podem contar, outros filiaram-se à pressa ora no PS ora no PSD, conforme a tendência da Bolsa de Bolores. Ainda assim é. Quando há dúvidas, põe-se no meio, e fazem a aposta mais pelo seguro.
Pintassilgo foi premiada, (conforme o combinado?), com o Parlamento Europeu, Zenha lançado fora como qualquer preservativo depois de usado, o PRD desapareceu indo os seus militantes em sistema de quotas para o PS e para o PSD.
Deste nevoeiro sairia uma figura que ficou pelo caminho.
O último candidato, com alguma legitimidade, a D. Sebastião.

1/16/2006

18ª SESSÃO-O OVO DA SERPENTE-INÍCIO

Volto a 1980.
Assassinado Sá Carneiro, o fim da AD (objectivo pretendido?) era questão de tempo. Acelerado foi pelo sucessor designado pela coligação, Francisco Pinto Balsemão , porventura o único Bildeberg que nunca foi a votos, sabe-se lá porquê.
Manobras de bastidores, desígnios inconfessáveis do então PR, Ramalho Eanes, e contra todas as opiniões este convocou eleições antecipadas.
Previsivelmente (acaso?) ganhou o PS, com maioria relativa. Assim sendo, o PSD ficou em segundo lugar. Juntos detinham uma enormidade no Parlamento.
A natureza última do regime surge então com todo o seu esplendor.
Os dois campos que elegeram e odiaram (à vez) o esfíngico general unem-se no Governo para nosso mal e da nossa salvação. Fizeram maioria absoluta , um governo forte e o que quiseram no Texto Constitucional ; um dos dois campos, secretos e subterrâneos, que manipularam e conduziram toda a farsa desde os anos 70 ( o outro era o bloco secreto PS/PCP) atingiu pela 1ª vez a plenitude do poder.
Foi, dizem cronistas e os salpicos que a história oficial não consegue filtrar, o período mais negro da nossa História recente.
O mais asqueroso, o mais corrupto e corruptível, e criminoso também.
Teve, sem dúvida, aspectos positivos: esclareceram-se as dúvidas sobre o paradeiro dos agentes da PIDE/DGS/Legião Portuguesa, com a formação do SIR mais tarde convertido em SIS, tendo como base os recursos humanos e logísticos daqueles.
Ora, um serviço secreto formado por governantes medíocres – era o tempo que que se dizia às claras, na TV, “tão medíocre tu ainda chegas a Secretário de Estado”- e executado por pessoas com longuíssimo historial no mester, não poderia dar bons frutos.
Se dermos como olvidável o caso dos G.A.L. (ladrão que rouba a ladrão...) , que quase mandava Felipe González para a prisão e mandou Mário Soares para a Presidência da República -quem disse que os espanhóis são mais finos?- ficaram outros de digestão mais complicada.
Macau e a instalação no poder das Tríades ; Rosado Correia -o homem que cometeu a proeza de só ter tido um elogia público quando morreu, precisamente o de Mário Soares- ; a instalação, já sem disfarce, do crime organizado no Estado, financiado pelas figuras atrás citadas, bem regado com fundos do jogo, extorsão e prostituição de Macau ( a TVI é herdeira disso); a perseguição sob formas mais modernas de quem não branqueasse o passado de esquerda filiando-se no PS/PSD- são apenas episódios que emergiram neste período, ao ritmo de um filme de terror.
Sem sombra de dúvida, mas com excesso de pecado, estabeleceu-se enfim, e pelo lado pior, o rumo de Portugal pós-Abril. Que disto só sairá (o regime, não Portugal) para a cova.
Para trás, bem para trás, -e muito para a frente que na História os nossos limites não contam- ficavam já as histórias inimagináveis contadas por para-protagonistas de cenas orgíacas nuns apartamentos que rodeavam a Assembleia da República, e as vidas muito pouco recomendáveis de figuram que mediaticamente moldavam e adolescente senilidade portuguesa, não citáveis porque estão, ou quase estiveram, em julgamento.
Demasiadas coincidências, nos nomes e tudo, durante vinte anos.

1/13/2006

17ª SESSÃO-O OVO E A SERPENTE (Intróito)

Nem de propósito: chegaram-se aqui o ovo, a serpente e o próprio Diabo.
Porque hoje é o dia em que, de uma forma indiscutível, se coloca uma grave decisão a Portugal: como se pode destituir um Presidente da República que ainda não descobriu, ao fim de dez anos, que está rodeado de lacraus?
Que só finge – nada mais faz que fingir – indignação quando lhe toca, a si ou a alguém da sua capoeira , os efeitos dos trabalhinhos que o seu covil prepara há longos anos?
Pausa para respirar.

1/12/2006

16ª SESSÃO - MAIS FORMIGAS

O que se descreve no post anterior tem a particularidade de percorrer, transversal e horizontalmente, o regime – que , de certa forma, é em si mesmo uma equiparação sem equivalência a democracia, combinada (in)devidamente entre os restos póstumos do marcelismo e os restos antecipados do abrilismo . Não se pode falar, pois, em períodos mais ou menos permissivos – há concerteza pactos subterrâneos que atravessam todos os partidos que ocuparam o poder. Como se fosse um destino, ou desatino negociado clandestinamente sabe-se lá por quem e a troco de quantos sacos de trinta.
Em Portugal houve pelo menos três fases em que esse desatino terá sido negociado: com o FMI, com o Banco Mundial e com a Comunidade Europeia. Parece que a UNESCO/UNICEF nos pressionou porque os Quadros Portugueses eram demasiado qualificados perante os restantes países do Mundo Ocidental. Era necessário decepar-nos a qualidade.
Oc opus, hic labor est .
(Eu sei que somos pagos para não trabalhar- disse Mário Soares no Congresso “Portugal que Futuro”, quando andava a jogar ao rato da cidade/rato do campo com Cavaco Silva.) Quem lhe disse? Ou com quem negociou ele essa cláusula, e quem nos paga?

E se é verdade que em Portugal os curricula eram mais longos que em outros países mais desenvolvidos, no que se refere aos primeiros graus do Ensino Superior, também é verdade que simplificar não significa decepar, e muito menos converter o não convertível : quem não conhece a Universidade não pode, nunca, obter um grau académico exclusivo daquela – excepção feita para os “honoris causa” - e muito menos exercer cargos em conformidade e em vencimento...

Pois fizemos tudo isto, e muito mais.

E se alguém pensou que na sessão anterior o lote estava esgotado, engana-se. Embora o objectivo não seja a descrição completa – apenas o alertar de sintomas para quem ainda não se consciencializou da doença.

Juntemos, pois, outras pérolas.
Os técnicos auxiliares sanitários eram, fundamentalmente, pessoas com um Liceu incompleto (raríssimos os casos em que possuíam o 7º/11º/12º anos) e um curso profissional ligado à higiene ambiental.
Não obstante, dispunham de um poder descomunal associado como sempre a um obscuro sindicato.
As Autoridades Sanitárias (Delegados de Saúde) que não gostam de sair dos seus gabinetes enviam aqueles profissionais fazer as vistorias inerentes – o que é ilegal.
Não estranhemos pois a péssima qualidade das nossas habitações, das instalações comerciais, industriais e hoteleiras: elas foram vistoriadas e autorizadas por pessoas com falência de conhecimentos mas com abundância de benesses pessoais.
Que é feito deles? O obscuro sindicato e o Governo de António Guterres fizeram o impensável: passaram-nos a bacharéis , apesar de alguns não terem mais que a 4ª classe do ensino primário.
E, com o tempo de serviço de que dispunham convertido na sua carreira, ninguém se admira se algum dia algum deles assessorar ou substituir um qualquer Secretário de Estado...

Outros, com maior ou menor descrição, foram povoando e alimentando o povo eleitor da revolução dos parvos.
O eleitorado está, pois, seguro, como estava com Salazar.
E há peças que, por menores, não são menos graves: os regentes agrários hoje são pomposos engenheiros; os administrativos da função pública que, com várias pontes e contra-fortes, se foram guindando carreira acima, atingindo também níveis salariais equivalentes aos quadros superiores.
E há mais, muito mais, mas por agora outros valores se levantam.

1/04/2006

15ª SESSÃO: A FORMIGA DAS CARREIRAS

Ao contrário da formiga, o Homem é um génio individual e um idiota colectivo.
Joël de Rosnay

O português parece, também aqui, ecléctico e universalista: é um idiota individual e colectivamente, é um génio colectiva e individualmente conquanto que com isso consiga resolver a sua vida num prazo de 10 a 20 anos- precisamente o horizonte que, desde os enjôos das navegações, se habituou a ter como limite.
E esta dança entre o perto e o meio-perto, constante e constantemente oscilante desde o 25 de Abril, levou-nos a um enjôo colectivo. Uma saturação dentro da qual preferimos não falar de um assunto para não sermos forçados ao vómito repetido.
Porque disto se trata.
Se nos lembrarmos das corridas ao ouro- onde tantas epopeias narram a emoção, e luta, ímpares na natureza humana, dos garimpeiros;
da corrida às terras nos Estados Unidos virgens, com o fim supremo de rentabilizá-las, pô-las a produzir; enfim.... há semelhanças, menos no objectivo de produzir algo.
Nós somos simplesmente ratazanas. Nem de esgotos precisámos, pois até esses nos foram oferecidos de bandeja. Sem esforço, sem honra, sem glória.
Talvez fosse esse o grande desígnio das governações PS, sempre com o apoio subterrâneo do PSD e sempre, sempre! Com o apoio do PCP e de todos os sindicatos no que a isto diz respeito. Sem excepção.
Já se apontou que o Estado português paga por ano cerca de 280 MILHÕES DE CONTOS EM SALÁRIOS MAL CALIBRADOS. Apontadas foram como exemplo os “engenheiros” saídos dos Institutos Industriais; os professores de ginástica, educação visual e trabalhos manuais que, sob o argumento de que também ensinavam, passaram automaticamente a ganhar como os licenciados; os auxiliares de educação nos infantários, vulgarmente conhecidos como contínuos, passaram para a carreira de educadores, ganhando como bacharéis e licenciados, porque ... também tomavam conta das crianças. E agora, em plena crise socrática, foram berrar para a Assembleia da República e conseguiram que todo o seu tempo de trabalho contasse como de licenciados para a sua carreira...
Infelizmente haveria mais. Muito mais.
Assistentes Sociais
Fosse qual fosse a sua escolaridade, passaram a licenciados. Dizem que para “licenciar” uma Elevada Dama com esse curso. Falta provar. Certo é que, com a equivalência de grau e com o tempo de serviço, foi vê-las a trepar por uma carreira que nem sabiam tipificar (a Carreira Técnica Superior) e chegarem num ápice aos lugares cimeiros, a Chefes de Divisão , a Directoras de Serviços...
Enfermeiros:
Aos milhares, dezenas de milhares , tal como os professores primários. Tivessem o 5º /9º Ano, tivessem o 7º/11º, passavam automaticamente a bacharéis, e com um saltito, a licenciados, mestres e doutores. Casos de arrepiar, principalmente os passados nas Escolas de Enfermagem, em que o mesmo “trabalho” dava para três a quatro mestrados... Casos houve em que num ano estudavam à noite para “completar o liceu” e no ano seguinte preparavam o... mestrado.
Professores primários
Idem, idem, aspas, aspas, às dezenas de milhares. Não merecia este vexame esta classe que, com tantos sacrifícios, alfabetizou Portugal, colocadas em aldeias onde hoje qualquer amostra de funcionário público recusaria. Ou aceitaria, para ficar vinculado, fugindo legalmente no mesmo dia para o Porto ou para Lisboa.
Porque de um vexame se trata. Ver estes professores, tal como os enfermeiros e os que se seguem no rol, a correr garimpeiramente para mestrados e doutoramentos causa dó. E dó maior causa o facto de o Estado o permitir. E nós também. Que agora pagamos tudo isto.
Os professores primários, ao “atingir” o grau superior, e como já possuíam anos e anos de serviço, passavam à frente de professores com bacharelato e com licenciatura, porque estes, tendo estudado até aos 22, 23 anos, conforme a duração dos seus cursos.
“Umas cadeiras” , um “trabalhito” sobre “uma coisa qualquer”, colocaram modestos (sem ofensa) portadores do 5º ou do 7º ano e Magistério como licenciados (aqui já é ofensa).
E milhares já se reformaram, na casa dos 50, gozando de reformas douradas que estamos a pagar, porque nunca, na realidade, alguém se apercebeu do caricato (e trágico) da situação.
E outros se seguirão.

12/02/2005

14ª SESSÃO - O GRANDE ACIDENTE LUSITANO

Lançados os dados, apresentados alguns actores, - a que se vão juntar auxiliares de educação, assistentes sociais, enfermeiros, técnicos paramédicos, técnicos auxiliares sanitários, professores primários, educadores infantis, etc... etc.... lançando tudo não às feras, não, que essas também foram repescadas pelo regime, vamos a um sítio. Na História.
Na altura – estávamos em Dezembro de 1980 – tudo se explicava dentro da querra fria esquerda-direita, sem volver. O Papa do sorriso morrera estranhamente? Foram os comunistas, dizia a direita; foi a ala mais reaccionária do Vaticano, dizia a esquerda, em que se incluía o grande acidente lusitano no largo do rato, animal que vive geralmente de esgotos e/ou lixo.
Numa noite- chuvosa ou seca tanto faz – a emissão da RTP (canal que tivera um período de luxo programático com Vasco Graça Moura e um período digno da loirice de Herman José com Proença de Carvalho) dizia a emissão da RTP era interrompida lá para as horas a que hoje se interrompe a mente dos portugueses. Motivo, o Primeiro-Ministro Sá Carneiro falecera num acidente de aviação.
Foi acidente ou a estrema-direita fascista diziam uns, foram os comunistas que o mataram diziam outros. Limpou-se tudo, enterraram-se os mortos, cuidaram-se os vivos. E esta última parte é que, com a limpeza ecológica que só o tempo faz, nos conduziu a este post. Hoje, em que os mais citados suspeitos do assassinato que já não oferece dúvidas estão bem de saúde graças a Deus, na inversa proporção da dita do regime, que os dois nunca fazem paralelas senão em sentido inverso. O que significa, por outras palavras, que estão sediados nas esferas do poder, chame-se ao mesmo o que se chamar.
Feita a decapagem ideológica, fica Sá Carneiro como um homem firme nos seus princípios e objectivos, dterminado e firme na liderança. A Aliança Democrática de que foi construtor e lider estava no poder, tinha uma maioria sólida e não se lhe conheciam rupturas. Estava, pois, “condenada” a governar por muitos e longos mandatos.
Dito por outras palavras, com Sá Carneiro VIVO e à frente da AD e do Governo, jamais o PS e o rato voltariam ao poder. Que também pode significar fazer umas coisas, fazer uns jeitos ou jogar uns jogos. Certo é que, pelo menos periodicamente, aquele partido tem que ir ao poder. Conforme se verificaria, embora os Historiadores não o registem, mais duas vezes: Cavaco Silva, cuja liderança no PSD lhe daria maiorias enquanto quisesse, teve de arquitectar um tabu para abandonar o barco, sabe-se lá se com medo de passar sobre Camarate; Durão Barroso foi seduzido e, com a presidência europeia, desmoronou-se o Governo de coligação, e sólida, que teria armas para continuar na governação por mais mandatos. Apesar de, desde a sua posse, o país ser varrido por informações seguras sobre a preparação de um golpe de estado.

11/04/2005

13ª Sessão: Os reprovados

Do destino de todos os alunos do Tronco Comum da FMUP de 1975/1976 falta apenas conhecer um grupo específico : os reprovados.
Mas como os últimos são os primeiros, estes foram, na prática, os mais beneficiados.
Pode mesmo dizer-se que nasceu, naquele período, uma nova classe de bem-aventurados: os reprovados a uma ou mais disciplinas do Tronco Comum.
Do destino dos outros, com maior ou menor precisão, foram dadas algumas linhas; faltavam estes.
Que lhes sucedeu, se o que estava destinado a quem reprovasse era a impossibilidade de prosseguir quaisquer estudos? Cá vai: os que quiseram, mudaram de vida; os que quiseram, foram para Medicina ou Medicina-Dentária.
Isso. Maior bem-aventurança não se conhece.
Contra todas as expectativas , criadas e bem alimentadas, puderam repetir os exames às cadeiras a que haviam reprovado as vezes que quiseram até obter a aprovação. Obtida esta, o seu futuro foi simples: matricularam-se em Medicina ou em Medicina-Dentária. Os que haviam obtido médias demasiado baixas matricularam-se em ... Medicina.
Onde? Em Medicina. Onde? No Instituto Abel Salazar.
Mansamente pela sombra, Nuno Grande, regressado do Ultramar, havia concebido esse novo Instituto. E criou nele um novo Curso de Medicina. Até aqui nada de especial. Especial foi que, contra o passado, presente e futuro, a Ordem dos Médicos reconheceu este novo curso, apesar de Nuno Grande não ser uma persona grata entre os tubarões do Hospital de S. João. E apesar de os iniciantes nele serem fruto de repescagens pouco sadias tendo em conta o que se havia passado na FMUP.
Fosse o assunto com Medicina-Dentária e de certeza que não haveria equivalências para ninguém.

11/03/2005

12ª Sessão- Os Professores Produzidos

Não se pense que era apenas nos Cursos Superiores de Saúde e nas baixas políticas que o corpo adolescente do Regime apresentava uma bulimia que cedo se converteria em anorexia nervosa, com anóxia e rumo à letalidade irreversível. Falta apenas saber se Portugal sobrevive a este Regime. Ou se ainda vive.
O outro veio central da sociedade também apodrecia a olhos vistos: na Educação, já se abordaram algumas equivalências à pressa-que depois se soube terem sempre como origem o favorecimento de um ministro ou seu parente- mas o pior estava para vir. E ainda não é o que se segue.
Lá por 1997, também no Porto, o governante Rocha Trindade anunciou, com o ar solene dos tiranetes do Terceiro Mundo que, face à falta de professores em Portugal, era necessário produzi-los. Isso.
E produziu.
Em Braga, arrancava a Universidade do Minho. Primeira função: formar Quadros Superiores? Especialistas? Não: produzir professores.
E produziu.
Dois anos de estudos, o terceiro já como estágio, e saíram, às centenas ou milhares, bacharéis de ensino (os bacharelatos havias sido reintroduzidos, parece que para este efeito). E como eram de ensino passaram à frente de todos os que já estavam no ensino, fossem licenciados, mestres ou doutores, ocuparam com efectivação as vagas que estavam destinadas àqueles. Poucas sobraram, principalmente na faixa respeitante ao Litoral Norte.
E assistiu-se num ápice a uma coisa não imaginável: Professores com anos – oito, dez, quinze... - de serviço, licenciados ou bacharéis por uma das três Universidades até então existentes ,vêm as suas vagas ocupadas por jovens, com habilitações inferiores (na prática só dois anos de ensino superior ) relegando os antigos para vagas sobejantes quando as havia. Esta ocupação foi definitiva, jamais reversível e os danos só não são conhecidos porque as grandes revoltas, as grandes dores, são mudas.
Quem participou nisto? Todos os Governos, todas as Oposições, todos os sindicatos, todos, activamente. Não há registo de reacção, por passiva que fosse.
E não mais se falou no assunto. Também nunca se falou.
E este não foi o único crime no Portugal pós-Abril, nem foi o maior. Mas todos tiveram o agréement de todos os partidos parlamentares, e de todos os sindicatos.

10/30/2005

11ª SESSÃO- Um passo atrás e dois interregnos

Foi longa e necessária esta incursão futurista, mas há mais marcas no passado que não devem ser apagadas.
Uma remonta aos primeiros tempos tempos da nossa saga. Agitou o Hospital de S. João, e abalou, mais do que os média mostram, fragmentos da nossa História futura.
Uma manhã, durante a primeira campanha presidencial pós-Abril, o Almirante Pinheiro de Azevedo, Primeiro-Ministro em exercício e Candidato a Presidente da República, é levado não em ombros mas de maca para os Cuidados Intensivos. Entre a vida e a morte, conforme as versões, oficialmente com um enfarte de miocárdio mas oficiosamente alimentando todas as dúvidas.
O candidato do regime (já então estabelecido e bem assente) era o General Ramalho Eanes, lançado pela ala direita do PS, o PPD/PSD e o CDS. Cinco anos mais tarde, seria reeleito com a ala esquerda do PS, o PCP e a estrema-esquerda. Quando saiu... ai, já falaremos. Porventura só a Itália recente nos anos mais negros nos ultrapassou. Itália onde se passavam já os preparativos para o desaparecimento de um Papa, que a História já apagou.
Porquê Ramalho Eanes? Porque era oficialmente o herói do 25 de Novembro. Pronto.
Ora, Pinheiro de Azevedo sabia que não era assim, como mais tarde se comprovou ser verdade. Ramalho Eanes tinha preparado, sim, um gabinete secreto três meses antes do 25/11 para desencadear o dito golpe, mas não estava sozinho. Ciumento de tantas atenções e privilégios, o Almirante lançou-se em cruzada pessoal contra a traição do General, quando teve o dito acidente- que ele classificou mais tarde de envenenamento.
Certo, certo, é que nunca mais foi o mesmo homem, nem física nem psicologicamente .
Quanto a Ramalho Eanes, ganhou folgadamente, com os votos de uma direita alargada. Três anos mais tarde, contra o seu hábito, falou. E, interrogado sobre qual a sua real inclinação política, responde que tem mais a ver com a direita CDS/PPD do que com a esquerda.
Zanga-se com ele a... direita até Mário Soares, apoia-o a esquerda do PS até à dita estrema, e na eleição seguinte, totalmente invertido, ganhou outra vez folgadamente. Foi quando Sá Carneiro pagou com a vida a teimosia de não sair do poder, um ano depois de um Papa desaparecer no Vaticano no meio de uma conspiração conjunta da Opus Dei, a loja negra maçónica P2 e o Banco do Vaticano.
A mudança de década não poderia ser mais confusa.

10/28/2005

10ª SESSÃO- PSYCHO

No fundo da tabela, indubitavelmente, ficaram os psicólogos, mau grado o nome que era já sonante e prestigiado em todo o Mundo.

Como já foi escrito, foram relegados para Letras; a sua Faculdade ainda hoje se chama de Psicologia e Ciências da Educação, nome equívoco uma vez que o termo Ciência está desfigurado, hoje, no Ensino Superior em Portugal.

Triste destino tiveram, e ainda têm. A sua grande salvação reside no mundo das relações de trabalho; hoje, qualquer empresa minimamente evoluída não dispensa o contributo da Psicologia nas suas diversas vertentes como apoio a uma saudável relação interna e com o trabalho.

A empresa menos evoluída, também neste aspecto , é o Estado. Os psicólogos que este contrata estão, na maioria, ainda em regime de contrato.

E se os nutricionistas tinham, como saída profissional mais fácil o ensino, com habilitação própria para leccionar Ciências e Matemática no então Ciclo Preparatório, com vencimento de licenciados (até à chegada dos professores produzidos) e habilitação suficiente para Biologia no Ensino Secundário, os psicólogos não possuíam qualquer habilitação para o ensino, inclusive para a disciplina de Psicologia do Ensino Secundário.

No que concerne à sua função primordial- que se julga ser o exercício da Psicologia- o processo foi, com variantes positivas e negativas, semelhante ao de nutricionismo . Não médicos, não paramédicos, psicólogos não praticantes, talvez, ...

A competição mais próxima seria a dos médicos psiquiatras. Nunca se declarou publicamente: nem o amor shakespeariano estomatologistas / dentistas, nem o ódio profundo de todas as especialidades médicas/vs. nutricionismo .
Restaram-lhes, e ainda hoje assim é, boas vontades pontuais de seres com a superioridade mental e cultural suficientes para pedir ajuda: alguns psicólogos têm, pelo país fora e em colaboração com psiquiatras e outros profissionais, desenvolvido trabalhos muito meritórios. Mas no fundo, bem no fundo, foram usurpados de funções suas pelos assistentes sociais - outras histórias para contar.

10/27/2005

9ª SESSÃO - DOS CANINOS AOS MOLARES

O momento supremo de uma certa arrogância entretanto adquirida ocorreu uns anos mais tarde. Continuavam os Dentistas a recusar lugares na Administração Pública, mas já se espalhavam pelo País, vilas incluídas, porque o número já não era comportado nas grandes cidades.
Cumpre dizer que a arrogância era humanamente compreensível a nível dos alunos/ recém-licenciados. Imagine-se um jovem, a rondar os 25 anos, com uma origem social que predominantemente vinha de uma classe média-baixa, a recuperar de um sufoco económico e de regime, e a quem era subitamente deposta uma dose de poder e de protagonismo o qual não está capacitado de gerir: o descalabro é eminente. Isto também se aplica aos médicos, a classe profissional com mais poder decisivo nas nossas vidas. Porque, face à lei, é o médico que decide se estamos doentes ou não, se estamos vivos ou não. Ninguém está oficialmente morto se um médico não o declarar . É um poder demasiado para quem tem 25 anos e um percurso de educação familiar e social que nem sempre será o correcto.
Se há aqui culpados, e voltamos à boca da questão, eles são seguramente, e só, os Professores que montaram esta anormalidade, e o poder político que, por estupidez ou por ignorância absoluta (ou as duas coisas) permitiram que isto acontecesse.
Ainda estes senhores estavam na Ordem dos Médicos, mas já a pensar em constituir a sua Associação própria - que, estranhamente, teria os poderes de Ordem – quando tudo estalou.
O Brasil, país onde a História Académica muito nos poderia ensinar, há já muitos anos formava nas suas Universidades os Cirurgiões-Dentistas.
País em crise, nomeadamente no emprego, os seus Cirurgiões-Dentistas rumam a Portugal da mesma forma que muitos portugueses haviam feito em sentido contrário.
Cirurgiões-Dentistas ? Que é isso? Que arrogância no nome, disseram os nossos... Médicos-Dentistas. Que formação têm? Nenhuma! Cuidado, portugueses, eles iriam destruir os vossos dentes!
E os portugueses, que dos dentes só conheciam a dor e as dezenas de contos pagos por consulta/tratamento, foram bombardeados durante meses com discussões sobre as quais nada sabiam. Caso único em Portugal, - nem os médicos fizeram tal coisa a colegas vindos de outros países – mobilizaram o poder político dos dois países, a opinião pública, para dizerem... não. Aqueles senhores, aqui, não exerceriam a profissão porque eles não deixaram. Não têm qualificações. Sabe-se lá onde se formaram. Juntaram-se os dois Governos envolvidos. Foram manchete da Imprensa escrita, falada e vista. O então presidente desta futura Ordem teve honras de tempo de antena em directo, daqui e d'além mar, junto com governantes dos dois países, notando-se nele um ego incapaz de gerir tanto protagonismo gerado por si próprio.
Foi a maior demonstração de poder- tendo em conta a importância relativa- do Portugal pós-Abril.
A relação entre Portugal e o Brasil tremeu. Houve trocas a nível de embaixadas, não se sabe se caíram ministros.
E os cirurgiões-dentistas não poderiam trabalhar se não prestassem vassalagem avaliativa perante a Ordem, tudo em nome da saúde oral dos portugueses.
Caso estranho, nesta altura, os nossos médicos-dentistas sofriam em Tribunal a grande humilhação do seu ego, caso nunca citado na Imprensa.
Havendo muitos médicos de clínica geral a abrir consultórios de Dentária, exercendo o mesmo mester, revoltaram-se também aqui os dentistas porque os ... médicos não possuíam as qualificações necessárias para tão exclusiva profissão. Foram para tribunal em disputa da exclusividade da prática oral, e a sentença foi clara:
O exercício da saúde oral é um acto médico; nesta conformidade, só pode ser exercida pelos licenciados em medicina, coisa que os licenciados em medicina-dentária não são.
Para que conste.

10/23/2005

8ª SESSÃO - DENTES AFIADOS

Diferente percurso e destino teve Dentária. Promovido, ilegalmente, a Medicina-Dentária (a actual legislação portuguesa ainda proíbe essa designação) tiveram o que faltara aos outros e ainda mais: tiveram tudo. Como parentes próximos, os estomatologistas - mau grado a diferença de ... 6 anos de estudos. Mas, Santa Família! a Ordem dos Médicos abriu-lhes a porta, apesar de não serem médicos, e o Colégio de Especialidade de Estomatologia criou, ou transformou-se em, Secção de Estomatologia e Medicina Dentária da Ordem dos Médicos, onde os integrou como membros de pleno direito, apesar de não serem médicos e muito menos estomatologistas. E mais ainda: os curiosos de diversos matizes que povoavam a área - dentistas, protésicos, ajudantes, anónimos - não obtiveram qualquer equiparação ou equivalência ao contrário do resto do País, não lhes incomodaram a vida. Apenas (porquê?) continuaram a poder prescrever legalmente medicamentos...
Saíriam Licenciados em Medicina Dentária. Anos mais tarde, os Tribunais desmentiriam esta designação, mas sem efeitos práticos.
Cumpre aqui esclarecer que, já naquele tempo (anos 80) um consultório de dentária envolvia os custos em equipamentos de centenas senão milhares de contos; e os medicamentos precritos em cada consulta, pelo menos um antibiótico e um antiinflamatório) não eram de desprezar. Nunca ninguém encontrou outra explicação para este tratamento diferenciado em relação aos colegas com quem partilharam este processo traumático.
A sua posição era tão privilegiada que recusaram colocação em consultórios da periferia do Porto; apenas lhes servia o Centro da Cidade. Recusaram também lugares que lhes foram oferecidos (em contraste nítido com os outros cursos) no Ministério da Saúde.
No início da década de 80 um protocolo bi-governamental luso-norueguês fez com que este país financiasse a construção de dezenas de Centros de Saúde em Portugal, equipados com consultório completo de dentária e outro de análises clínicas: todos estão virgens, porventura obsoletos ou a envelhecer em cascos de carvalho.

10/18/2005

7ª SESSÃO - AS LENTAS CLARIFICAÇÕES

Em 2/3 anos se clarificaria, com laivos de monstruosidade, uma parte da nossa situação.
Em Portugal, como na esmagadora maioria dos países ditos de referência mundial, havia duas classes de profissionais de saúde: médicos e enfermeiros. Os barbeiros tinham perdido o direito ao exercício do mester...
Hoje, 30 anos depois, assim continua.
O leque só é alargado em campanhas eleitorais, pontualmente para calar alguma classe com aspirações a tal, ou por responsáveis do Ministério da Saúde -que talvez sem excepção, têm demonstrado nada entender do Universo que governam- quando querem mostrar trabalho (a tal obra feita dos políticos ultra-medíocres) ou quando, por alguma falha técnica, são defrontados na TV com alguém que conheça um pouco sobre governação nesta área.
Isto significa que, face à Lei, só podem intervir directamente junto do doente profissionais dessas duas áreas. Nos EUA, por exemplo, existem os paramédicos - que em nada se comparam com a caricatura portuguesa- que são a "tropa de embate", nomeadamente em casos de acidentes.
A própria OMS define padrões de saúde pelo ratio médico e/ou enfermeiro por X habitantes, excluindo qualquer veleidade seja ela psicóloga, nutricional ou outra.
Mas, enquanto que noutros países há uma libertação cultural que permite a qualquer profissional se afirmar na sua carreira e exercê-la com satisfação, aqui o anátema é pesado. Só a hipocrisia e a ignorância (nada é infinitamente bom ou mau por si só) têm permitido aqui e ali o emergir pontual de alguns profissionais saídos destas áreas que, recorde-se, escolheram... "voluntariamente".
Este intróito justifica-se:
Qual o enquadramento académico, e legal, destes novos quadros? Pois.
Medicina e Educação Física: seguiram o seu percurso normal, salvo as equiparações fraudolentas que o Estado deu a professores de ginástica com o 5º e 7º ano dos liceus com o bacharelato e a licenciatura, mas disso trataremos um dia.
Nutricionismo: nada era. Nem médicos, nem paramédicos, nem licenciados, nem bachareis (os bacharelatos estavam extintos em Portugal). Pré-expulsos várias vezes da Uiversidade, pré extintos outras tantas, por razões tão obscuras quanto a sua origem.
A Ordem dos Médicos, única entidade a determinar e terminar o que existe no Ensino Superior da Saúde, encarou muito mal a criação disto, perseguiu os seus fundadores, deu ordens expressas de proibição a Hospitais e Centros de Saúde de empregar estes técnicos.
Falava-se num boicote do Colégio de Especialidade de Endocrinologia. Falava-se em insondáveis mistérios envolvendo docentes que haviam lançado o Curso- opções políticas, jogos de poder, perseguições pessoais- mas nada jamais veio a público.
Certo é que, ao fim de três anos, saíam com bacharelato (grau extinto em Portugal!). Acabara aqui, ilegalmente, o seu percurso académico... ilegal

10/14/2005

6ª SESSÃO - SETEMBRO

Depressa, julgo, se chegou a Setembro de 1976. Como o que se segue é denso, pede-se paciência. E, sobretudo, confiança - isto não é ficção.
Estavam terminadas as avaliações. Passámos às três cadeiras cerca de 500 alunos. Os restantes tinham desistido, mudado de curso, ou chumbado a uma ou mais cadeiras. Estes, repito, estavam sujeitos à pena de não se puderem re-matricular.
Decidiram-se as vagas: 300 para Medicina, a que se juntaram mais trinta (quem diz que não pode funcionar com tantos alunos?), 50 para cada um dos "paramédicos": dentária, nutricionismo, psicologia, ginástica. Entretanto, dentária foi convertida em medicina-dentária, contrariando a lei vigente (ainda hoje) e ginástica em educação física.
A seriação foi, como hoje, baseada num jogo de bolsa de valores.1º Medicina, 2º Dentária, 3º Nutricionismo, 4º Ginástica.. Interessante como 30 anos depois a seriação se faria pela mesma ordem.
Há aqui uma nebulosa que nem importa dissipar. Quando começou cada curso, onde, com que planos de estudo, tudo isso é de somenos importância.Na altura, o tempo tinha descomprimido, como se a realidade física nele interferisse. E ainda hoje tudo isso parece insignificante.
Cumpre informar que por esta altura ainda se não conhecia qualquer caso de suicídio ou de perturbação psicótica, depressiva, ou outra. Os combates extremos centrifugam as almas, algumas saem de órbita- as que ficam ficam para contar como foi.
Os primeiros tempos dos novos cursos foram normais. Medicina ("os vossos colegas foram uns burros! Tivessem pedido e ficavam todos aqui...")e "paramédicos": Dentária (shiu, estejam calados que vão ser tratados como médicos) Nutricionismo (onde estavam vocês? Há 400 vagas à vossa espera no país!) Psicologia (empurrada para Letras, chegou a ter 12 cadeiras de línguas estrangeiras) e Ginástica, a bem da verdade o único que construiu um percurso com personalidade.

10/11/2005

5ª SESSÃO : O HORROR

E está na recta final o 1º ano do tronco comum de Medicina da FMUP. Parece que Sottomayor Cardia já é Ministro da Educação de Mário Soares. Aos nossos apelos, não responde porque não sabe.
Iam correndo as avaliações. Conforme os turnos, a Citologia, a Bioquímica e Biofísica e, para sobremesa, a Bioestatística.
Introduzida pela primeira vez massivamente no Ensino Superior, a Matemática e a Estatística fizeram aqui História. Com uma dúzia de aulas e outras tantas de apontamentos, despertámos: por muito importante que seja, a Estatística vai ajudar a decidir quem será médico ou ... paramédico?. Deliciados com o argumento, houve greve aos exames da cadeira. Votada a greve em Assembleia Geral, foi levado o rigor democrático ao ponto de, em greve, não se permitir que alguém individualmente decidisse fazer exame.
Uma vez, duas vezes ...

O SEGUNDO VOLUNTARIADO - O DESPERTAR DE CARDIA

O Ministro da Educação passou a estar informado do nosso problema e, num ápice, enviou-nos para o nosso segundo voluntariado no espaço de um ano.
Por Despacho seu, iríamos fazer o exame no Comando Central da PSP do Porto, vigiados, e sob o regime de absoluto voluntariado.

Fomos divididos por cinco dias. Em cada um, o grau de dificuldade era radicalmente diferente. E -curioso!- eramos agrupados segundo o grau de contestação feito. Que precisão, Santo Deus! Era tal e qual...Os mais contestatários suaram a estopinhas para arrancar um dez ou um onze no exame, quando não chumbavam: os outros, com permissão senão ordem par copiar, arrancavam sonoros quinze, desasseis e vintes.
Só éramos iguais à entrada:

"Eu, abaixo assinado, declaro que me submeto voluntariamente a executar o exame na disciplina de Bioestatística".

Quem não assinasse voluntariamente não podia fazer o exame. Chumbava. E quem chumbasse, nesta ou noutra cadeira, jamais se poderia matricular novamente na Universidade do Porto.

10/10/2005

4ª SESSÃO - A VERGONHA ANTES DE BOLONHA

Situação neste ponto: Antes deste processo- que no essencial se iniciou no pós-25 de Abril- Portugal possuía um sistema de Ensino Superior a que não faltava limpidez: dois ciclos básicos, o de Bacharelato e o de Licenciatura, formando qualquer um deles dê-erres competentes para a sociedade, que podiam macular-se se na sua prática esquecessem a ética e/ou os conhecimentos adquiridos, mas cuja titularidade académica não suscitava qualquer dúvida.
Nesta altura, estávamos em 1976, já havia sinais que, de inverosímeis, se limitavam a alimentar o bom humor em serões e tertúlias aliviando o stress que nos ia asfixiando. Não pretendendo ser exacto nas datas, isso seria difícil, circulavam já as histórias dos engenheiros saídos dos Institutos Industriais para onde haviam entrado com o 5º ano liceal mais dois dos ditos Institutos ; também os professores de Educação Manual e Visual cujas habilitações iam do ciclo preparatório ao 5º no do ensino liceal e que, administrativamente, passavam a ganhar como qualquer professor titular de bacharelato e de licenciatura, tendo-lhes sido mesmo atribuído o título administrativo de bacharel e de licenciado.
O argumento, que se repetiu nas décadas seguintes com outros grupos sociais, era assim : exerciam as mesmas funções. E pergunta-se: se alguém, por exemplo um socorrista, salvar muitas vidas, deve ganhar tanto como um médico?
Mas tudo isto era ainda uma pequenina amostra do que se seguiria em Portugal, no âmbito do ensino superior.
Haja a lucidez de não nos perdermos, tamanhos são os caminhos do dito, e de tudo retratar com a parcimónia e a correcção que todos os assuntos sérios merecem.Sérios, ou de Estado, ou de Suprema Justiça como parece ser o caso.
Estava pois iniciado o processo mais produtivo mais rápido e produtivo no nosso país. Talvez outro não haja que se lhe compare.
É que, nos anos seguintes e até ao presente, o horror instalou-se a ponto de hoje contando com reformas e vencimentos no activo, existirem entre 100.000 a 200.000 portugueses a auferir como quadros superiores, sem nunca terem pisado o átrio de uma Universidade, e muitos possuirem mesmo, ainda que só administrativamente, o título de Mestre e de Doutor...
No mínimo, em salários indevidamente pagos, Portugal paga por ano cerca de 280000000 contos...
O que reforça, por injusto, o absurdo do processo que estávamos a passar.

10/05/2005

3 . Interregno

Um foi a Cimeira da Internacional Socialista: runião magno-patética, digna de um qualquer chefe gaulês a receber o a receber o invasor-aliado romano. Na Tribuna, a fina flor europeia: Miterrand le françois, Olof Palm (malogrado e mais digno de respeito) Willy Brandt Presidente e outros anónimos governantes e dirigentes europeus que em silêncio ouviram, se de tradução simultânea dispunham, e viram- que os olhos traduzem todas as línguas - as piruetas de palco do dito cujo nome não mais cito: "Vejam! Aqui estão os poderosos da Europa! E são nossos e meus amigos! Estão com o PS, não com o PPD. E bamboleava o rabo, os tornozelos e as mãos. São ELES! - a mão direita apontava Miterrand, o rabo do lado oposto - são ELES que dão de comer aos nossos emigrantes, a milhares de compatriotas nossos. São estes homens! - mão esquerda para Brandt, o rabo para o lado oposto - que são nossos amigos e que nos têm sustentado!
E quem se quiz meter no meio? Sá Carneiro, fasciszante, mas ainda bem que eles não o aceitaram.
As hordas berravam: fascista, fascista!
E subiu ao palco Felipe Gonzalez, meio escondido -camarada no exílio! - de jeans e sapatilhas, a aumentar o fervor antifascista da populaça.
E Salado Zenha, de fina ironia, embora não tanta como a que vestiu para se candidatar dez anos depois a Presidente da República - retocou a imagem: o "pintainho fraldiqueiro", de seu nome Sá Carneiro, apesar de fascistóide pretendeu ensombrar esta cimeira fazendo um forcing para ser admitido na Internacional Socialista! Não permitiremos! Estes senhores (e apontava para a Tribuna) não o permitiram .
Estava a brasa no ponto. Sabiam muito bem que nos Aliados (para onde no fim encaminharam as pessoas... ) havia barracas do PPD, o que na altura era normal.
E de orelhas a escaldar, o povo foi em massa aos Aliados derrubar as barracas fascistas.

10/04/2005

2 . 2ª Sessão e um interregno

Entretanto, do nevoeiro iam esboçando-se umas figurinhas de contornos bem fugidios, é certo, mas já com nomes. Que estavam na forja saídas na área da ginástica, da psicologia, da alimentação e ecologia, dos dentes.
Já era alguma coisa. Para nós, que nada sabíamos da diferença entre um dentista e um estomatologista, entre um psicólogo e um psiquiatra, um dietista e um nutricionista ou endocrinologista. Se calhar iriam equiparar todos... Iriam? Soubesse o Governo Brasileiro do que se passou aqui e as relações entre os dois países estariam terminadas ainda hoje.
E trabalho? Ei!!! Nada de preocupações. Havia para todos e sobrava. Nos Concelhos, nos Distritos, na República e no Reino, contas bem feitas ficariam milhares de lugares por preencher porque nós não conseguiríamos abarcar tudo.
Graus académicos? Mas algum português, mesmo com a Universidade completa, sabe o que são graus académicos e o seu significado? Não? Muito menos nós, que íamos fazendo luta e tentando notas grossas para fugir aos cursos paramédicos... apesar de tanto trabalho à espera.
Os interventores iam também saindo da bruma: para cada curso previsto, um ou dois nomes auto-sonantes, dos melhores do País, era apontado como principal mentor. O seu brilho ofuscava a sombra do Pinhal de Naus e Tormentas a Haver.
O turbilhão do País não era mais sensato e muito menos calmo. E aqui se justifica uma primeira pausa terapêutica para conseguir narrar o desenvolvimento do processo em curso.
Saído da nebulosa e arrumando aos poucos os compagnons de route, a quem ia tratando das sete felinas vidas, Mário Soares afirmava-se, por ausência de outros, a figura do regime, já então um regime de pouca figura.
Dois episódios, que passaram pelo Porto em geral e pelo Hospital de S. João em particular, marcaram com um cunho emblemático o regime português. E neste caso a sequência e inserção cronológica é secundária.

9/28/2005

1 . Registo das sessões

Por entre o ruído dos megafones do PS anunciando a libertação final do País - estava-se no místico e nunca explicado 25 de Novembro- algo de muito nubloso anunciava o que se narra a seguir.
Uma semana depois arrancava o tronco comum da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
O 1º ano lectivo anterior fora interrompido nas Universidades portuguesas. Exceptuando para os alunos vindos das Colónias (pode dizer-se mesmo que só abrira para estes).
A recém-"revolução" estava mais preocupada com outras coisas. Aliás, e como é uso em Porugal, o adiamento por um ano nada resolveu- a não ser a atraso de um ano na vida dos jovens candidatos.
E entrámos 1200 de uma carneirada, sem sonhar o abate de Páscoa que nos aguardava, na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto - a do Hospital de S. João, que a outra ainda não emergira do nevoeiro.
A matrícula fica para os anais de um qualquer regime estalino- terceiromundista. Bem urdida por comissões do Partido Comunista (o PS não existia organizado nesta Faculdade, a não ser que se dedicasse a outras tarefas menos visíveis) durante o ano de interrupção involuntária não referendada, pois a matrícula comaçava com esta pérola que a seguir se transcreve:

. Eu, _____ abaixo asinado(a), declaro por minha honra que aceito ser colocado voluntariamente em qualquer outro curso médico, paramédico ou afim."
Assinatura,

Quem não assinasse este voluntariado não poderia efectuar a matrícula, ficando igualmente impedido de se matricular em qualquer outra Faculdade da Universidade do Porto.
Ou seja, todos assinámos voluntariamente.
Mas, como não havia na Universidade do Porto qualquer outro curso médico (Deus mu, como nos enganávamos!!!) o nosso lema era fugir dos paramédicos, tentando obter nas 3 cadeiras do 1º ano a melhor média possível (prática que hoje existe no ensino secundário, e que levará à morte por asfixia dos Cursos de Medicina em Portugal).
Éramos, pois, 1200 alunos do 1º ano da FMUP, que voluntariamente se tinham disponibilizado para ser transferidos para qualquer outro curso médico, paramédico ou afim. Afim que seria parte principal no processo.
Às vezes perguntávamos: mas que cursos serão esses? Alguns diziam: são umas coisas muito giras, parece que têm a ver com ecologia.
Claro que houve luta. E criou-se, institivamente julgo eu, uma frente contra o plano que havia sido oferecido ao nosso voluntariado. A Frente era absoluta: ia das juventudes do MIRN às do MRPP, incluindo as dos partidos que tinham fortes responsabilidades na situação: o PC e, nesta altura, o PPD. Apenas o PS não fazia parte, pela simples razão de na Faculdade ter só um militante assumido, ou então, porque se dedicava a tarefas menos sobreterrâneas, como mais tarde pareceu, para não dizer comprovou.
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