10/28/2005

10ª SESSÃO- PSYCHO

No fundo da tabela, indubitavelmente, ficaram os psicólogos, mau grado o nome que era já sonante e prestigiado em todo o Mundo.

Como já foi escrito, foram relegados para Letras; a sua Faculdade ainda hoje se chama de Psicologia e Ciências da Educação, nome equívoco uma vez que o termo Ciência está desfigurado, hoje, no Ensino Superior em Portugal.

Triste destino tiveram, e ainda têm. A sua grande salvação reside no mundo das relações de trabalho; hoje, qualquer empresa minimamente evoluída não dispensa o contributo da Psicologia nas suas diversas vertentes como apoio a uma saudável relação interna e com o trabalho.

A empresa menos evoluída, também neste aspecto , é o Estado. Os psicólogos que este contrata estão, na maioria, ainda em regime de contrato.

E se os nutricionistas tinham, como saída profissional mais fácil o ensino, com habilitação própria para leccionar Ciências e Matemática no então Ciclo Preparatório, com vencimento de licenciados (até à chegada dos professores produzidos) e habilitação suficiente para Biologia no Ensino Secundário, os psicólogos não possuíam qualquer habilitação para o ensino, inclusive para a disciplina de Psicologia do Ensino Secundário.

No que concerne à sua função primordial- que se julga ser o exercício da Psicologia- o processo foi, com variantes positivas e negativas, semelhante ao de nutricionismo . Não médicos, não paramédicos, psicólogos não praticantes, talvez, ...

A competição mais próxima seria a dos médicos psiquiatras. Nunca se declarou publicamente: nem o amor shakespeariano estomatologistas / dentistas, nem o ódio profundo de todas as especialidades médicas/vs. nutricionismo .
Restaram-lhes, e ainda hoje assim é, boas vontades pontuais de seres com a superioridade mental e cultural suficientes para pedir ajuda: alguns psicólogos têm, pelo país fora e em colaboração com psiquiatras e outros profissionais, desenvolvido trabalhos muito meritórios. Mas no fundo, bem no fundo, foram usurpados de funções suas pelos assistentes sociais - outras histórias para contar.

10/27/2005

9ª SESSÃO - DOS CANINOS AOS MOLARES

O momento supremo de uma certa arrogância entretanto adquirida ocorreu uns anos mais tarde. Continuavam os Dentistas a recusar lugares na Administração Pública, mas já se espalhavam pelo País, vilas incluídas, porque o número já não era comportado nas grandes cidades.
Cumpre dizer que a arrogância era humanamente compreensível a nível dos alunos/ recém-licenciados. Imagine-se um jovem, a rondar os 25 anos, com uma origem social que predominantemente vinha de uma classe média-baixa, a recuperar de um sufoco económico e de regime, e a quem era subitamente deposta uma dose de poder e de protagonismo o qual não está capacitado de gerir: o descalabro é eminente. Isto também se aplica aos médicos, a classe profissional com mais poder decisivo nas nossas vidas. Porque, face à lei, é o médico que decide se estamos doentes ou não, se estamos vivos ou não. Ninguém está oficialmente morto se um médico não o declarar . É um poder demasiado para quem tem 25 anos e um percurso de educação familiar e social que nem sempre será o correcto.
Se há aqui culpados, e voltamos à boca da questão, eles são seguramente, e só, os Professores que montaram esta anormalidade, e o poder político que, por estupidez ou por ignorância absoluta (ou as duas coisas) permitiram que isto acontecesse.
Ainda estes senhores estavam na Ordem dos Médicos, mas já a pensar em constituir a sua Associação própria - que, estranhamente, teria os poderes de Ordem – quando tudo estalou.
O Brasil, país onde a História Académica muito nos poderia ensinar, há já muitos anos formava nas suas Universidades os Cirurgiões-Dentistas.
País em crise, nomeadamente no emprego, os seus Cirurgiões-Dentistas rumam a Portugal da mesma forma que muitos portugueses haviam feito em sentido contrário.
Cirurgiões-Dentistas ? Que é isso? Que arrogância no nome, disseram os nossos... Médicos-Dentistas. Que formação têm? Nenhuma! Cuidado, portugueses, eles iriam destruir os vossos dentes!
E os portugueses, que dos dentes só conheciam a dor e as dezenas de contos pagos por consulta/tratamento, foram bombardeados durante meses com discussões sobre as quais nada sabiam. Caso único em Portugal, - nem os médicos fizeram tal coisa a colegas vindos de outros países – mobilizaram o poder político dos dois países, a opinião pública, para dizerem... não. Aqueles senhores, aqui, não exerceriam a profissão porque eles não deixaram. Não têm qualificações. Sabe-se lá onde se formaram. Juntaram-se os dois Governos envolvidos. Foram manchete da Imprensa escrita, falada e vista. O então presidente desta futura Ordem teve honras de tempo de antena em directo, daqui e d'além mar, junto com governantes dos dois países, notando-se nele um ego incapaz de gerir tanto protagonismo gerado por si próprio.
Foi a maior demonstração de poder- tendo em conta a importância relativa- do Portugal pós-Abril.
A relação entre Portugal e o Brasil tremeu. Houve trocas a nível de embaixadas, não se sabe se caíram ministros.
E os cirurgiões-dentistas não poderiam trabalhar se não prestassem vassalagem avaliativa perante a Ordem, tudo em nome da saúde oral dos portugueses.
Caso estranho, nesta altura, os nossos médicos-dentistas sofriam em Tribunal a grande humilhação do seu ego, caso nunca citado na Imprensa.
Havendo muitos médicos de clínica geral a abrir consultórios de Dentária, exercendo o mesmo mester, revoltaram-se também aqui os dentistas porque os ... médicos não possuíam as qualificações necessárias para tão exclusiva profissão. Foram para tribunal em disputa da exclusividade da prática oral, e a sentença foi clara:
O exercício da saúde oral é um acto médico; nesta conformidade, só pode ser exercida pelos licenciados em medicina, coisa que os licenciados em medicina-dentária não são.
Para que conste.

10/23/2005

8ª SESSÃO - DENTES AFIADOS

Diferente percurso e destino teve Dentária. Promovido, ilegalmente, a Medicina-Dentária (a actual legislação portuguesa ainda proíbe essa designação) tiveram o que faltara aos outros e ainda mais: tiveram tudo. Como parentes próximos, os estomatologistas - mau grado a diferença de ... 6 anos de estudos. Mas, Santa Família! a Ordem dos Médicos abriu-lhes a porta, apesar de não serem médicos, e o Colégio de Especialidade de Estomatologia criou, ou transformou-se em, Secção de Estomatologia e Medicina Dentária da Ordem dos Médicos, onde os integrou como membros de pleno direito, apesar de não serem médicos e muito menos estomatologistas. E mais ainda: os curiosos de diversos matizes que povoavam a área - dentistas, protésicos, ajudantes, anónimos - não obtiveram qualquer equiparação ou equivalência ao contrário do resto do País, não lhes incomodaram a vida. Apenas (porquê?) continuaram a poder prescrever legalmente medicamentos...
Saíriam Licenciados em Medicina Dentária. Anos mais tarde, os Tribunais desmentiriam esta designação, mas sem efeitos práticos.
Cumpre aqui esclarecer que, já naquele tempo (anos 80) um consultório de dentária envolvia os custos em equipamentos de centenas senão milhares de contos; e os medicamentos precritos em cada consulta, pelo menos um antibiótico e um antiinflamatório) não eram de desprezar. Nunca ninguém encontrou outra explicação para este tratamento diferenciado em relação aos colegas com quem partilharam este processo traumático.
A sua posição era tão privilegiada que recusaram colocação em consultórios da periferia do Porto; apenas lhes servia o Centro da Cidade. Recusaram também lugares que lhes foram oferecidos (em contraste nítido com os outros cursos) no Ministério da Saúde.
No início da década de 80 um protocolo bi-governamental luso-norueguês fez com que este país financiasse a construção de dezenas de Centros de Saúde em Portugal, equipados com consultório completo de dentária e outro de análises clínicas: todos estão virgens, porventura obsoletos ou a envelhecer em cascos de carvalho.
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